sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O que já foi e o que será

Sentada, sozinha, na praça de alimentação de um shopping perto de casa, estou paulistanamente comendo. Levanto a cabeça e cruzo o olhar com uma senhora de uns 70 anos. O encontro visual dura alguns segundos e eu logo volto para o meu prato.

Tenho medo de envelhecer. Ainda não sei lidar direito com os cabelos brancos que começaram a aparecer há algum tempo. Só eu vejo eles, mas é o que basta. Eles não combinam com a minha euforia em estar vivendo minha adolescência tardia. Eles não combinam com a cara de surpresa que todo mundo faz quando digo que tenho quase 30 anos.

--- Caralho! Eu te dava uns 23...

Gosto de ainda ter cara de 23. Dizem que os vinte e poucos anos são o ápice da vida e me sinto privilegiada por essa tal vida ter me dado esse capricho. Ter recuperado aos quase 30 o corpinho, o fôlego e o espírito dos pouco mais de 20, depois de ter tido que viver por tantos anos situações que só deveriam ser vividas muitos anos depois. Talvez hoje.

Olhando de rabicho para a senhora da mesa ali na frente, vejo nela um rosto envelhecido, cabelos muito brancos e uma expressão séria. Não é triste. Beira a melancolia, mas acaba transmitindo alguma paz e bastante serenidade. Fico imaginando o que ela vê.

Olhando para mim, certamente vê o frescor da juventude. O semblante de cansaço recompensador de quem trabalhou muito durante a semana em algo de que gosta muito. E a segurança de quem já aprendeu a se permitir passar uma sexta à noite sozinha. Às vezes por necessidade; hoje por escolha.

Vê também a inquietude de quem janta sozinha, mas não larga o celular. A ansiedade pelas respostas que ainda estão por vir no WhatsApp e na vida. A insegurança e a imaturidade de quem ainda está aprendendo a lidar com a fugacidade das coisas.

Olho para ela e a vejo observando, pacatamente, o mundo acontecer à sua volta. Muito já aconteceu para ela e agora parece ter chegado a hora de esperar. Esperar pelos filhos. Esperar pelos netos. Esperar pela aposentadoria cair na conta. Esperar pela morte.

Ela olha para mim e me vê mergulhada em mim mesma, acelerada pelo mundo em que eu vivo e ela desconhece, perturbada com as infinitas possibilidades da vida, distraída pelo turbilhão de ideias, planos, sonhos e expectativas que não me dão trégua em nenhum momento do dia. Olha para mim e vê a intensidade e a incerteza de quem ainda tem muito ainda pela frente para viver.

Olho para ela e me vejo amanhã. Ela olha para mim e se vê ontem. Não gostamos do que vemos e acabamos decidindo voltar a olhar para dentro de nós mesmas. Afinal, é isso o que temos para hoje - ela, a experiência; eu, a juventude - e já percebemos, ela provavelmente há muito mais tempo do que eu, que viver não pode ser conformismo, mas não deixa de ser aceitação.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Oi, vida! Você vem sempre aqui?

Antes de começar a ler este texto, feche os olhos, tente dar uma segurada nos pensamentos e respire três vezes, sem pressa, bem fundo. Pode ir, eu espero.

...

Pronto? Esta sensação que você acabou de ter se chama vida. E esta que você está tendo agora, logo depois de respirar fundo algumas vezes, se chama paz. A paz de quem tem vida.

É muito comum a gente ter insights sobre o valor da vida depois que perdemos uma pessoa querida. Ou depois que alguém muito perto da gente perde uma pessoa querida. Aconteceu comigo faz pouco tempo.

Mas eu acho muito louco quando a gente tem insights sobre a vida sem a motivação específica da ausência. Tive isso hoje.

Cheguei em casa, meio bebadinha do vinho que tomei com uma amiga, falei oi para os meus gatos e entrei no quarto para trocar de roupa. Minha cabeça tá cheia, como a sua e a de todo mundo que vive neste mundo, mas, de repente, olhei para o nada e pensei: caralho, tô viva!

Olhei para o Shants e para o Pedrito. Eles são vida. Cheguei bem perto, fiquei olhando para eles, fiz carinho e pensei de novo: vocês são vida. Falei isso para eles e eles gatamente cagaram para o meu momento inspiração (hahaha... gatos são lindos maravilhosos!).

Vida é poder respirar, é poder pensar, é poder planejar... vida é ser feliz, é ser triste. Vida é poder pôr no blog, no papel, na música, na quadra, no papo de bar o que a gente é de melhor. E de pior. Vida é pôr pra fora o que a gente pensa, mas também é guardar o que a gente não acha que está pronto para pôr pra fora. Vida é escolha.

Vida é sentir frio e calor. Vida é amanhecer. Vida é aquela sensação deliciosa de deitar na cama depois de um dia cheio (já já vou fazer isso) e também é acordar mal humorada (já já também vou fazer isso) porque a porra do despertador tocou e você tem que acordar pra ir correr atrás de algo que você gosta, de algo que você não gosta, de algo que te dá dinheiro, de algo que ainda não te dá dinheiro, de algo que nunca vai te dar dinheiro, de algo que te realiza, de algo que é transição. De algo.

Vida é ser você mesmo. Vida é fazer de conta que você é alguém. Vida é ter chances e possibilidades. Vida é abrir os olhos e sair por aí. Vida é fazer todo o dia a mesma coisa e fazer todo o dia alguma coisa diferente. Vida é agir.

Vida é movimento, vida é um presente, vida é uma chance única e passageira. A vida é um respiro. Ou três, assim como começou este texto...

Oi, vida, tudo bem? Às vezes, esqueço que você é (apenaaaas) tudo o que importa. Mas você não desiste mesmo de mim, né? Está sempre aí. Obrigada! Não repare minha falta de modos e fique o quanto tempo quiser. A gente meio que se estranha às vezes, mas a real é que eu gosto muito de você! Beijos, linda! Te quiero! :*

terça-feira, 14 de julho de 2015

Tempo

O mesmo tempo que escraviza, liberta. Você pode olhar para o relógio do celular como um indício de que o tempo está passando e você está parado, mas você também pode encarar que o tempo é só o tempo e é você que está passando por ele.

Nós estamos sempre passando por aí. Que sorte a nossa por isso! As coisas ficam, a gente vai. E, no fim, levamos um pouquinho mais longe só o que realmente importa, só o que deveria estar com a gente mesmo.

Um dia, uma coisa faz todo o sentido do mundo. Essa coisa é importante, bonita. Pode ser feia e pesada também. A vida é assim. Traz pra a gente coisa boa e coisa ruim. Mas, independente do juízo de valor, o fato é: o sentido das coisas muda. E muda graças ao tempo.

É verdade que essa mudança pode demorar mais ou menos. Depende do quanto estamos dispostos a carregar as coisas com a gente. Depende do quanto vale a pena carregar e, às vezes, também do tamanho da nossa teimosia em insistir carregando.

As relações, os sentimentos, os apegos, os sofrimentos, as alegrias, as amizades, o amor... tudo se transforma. Nada é duradouro. Tudo é perecível.

Reconhecer isso é duro, é verdade. O pensamento de que tudo pode durar para sempre é confortante, cômodo, seguro. É mais fácil nos preparar para lidar com o que já conhecemos. Bom ou ruim, sabemos o que vem.

Mas quando você simplesmente admite para você mesmo que, na verdade, você só está passando por aí, a fugacidade das coisas se torna óbvia, assim como a percepção de que nossa caminhada nessa vida é única e só nossa. Somos os protagonistas dela.

Somos nós que escolhemos o caminho, o ritmo, as companhias, as paisagens, as paradas. Não estamos presos a nada. Se ficamos, é porque queremos. Se vamos, é porque decidimos partir.

A vida não para. A gente não para. O que acontece é que às vezes a gente desliga o motor e continua o movimento na inércia.

Que a nossa inércia seja tão passageira quanto tudo o que acontece na nossa vida.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Plano de voo

Quando a gente decide se separar de uma pessoa que a gente ama muito, o primeiro sentimento, normalmente, é de desespero, mas pode também ser de alívio. Optar por dividir nossa caminhada com outra pessoa torna o percurso mais intenso e bonito, mas também mais desgastante e trabalhoso.

Nossa essência é desbravar caminhos e experimentar sensações novas. É quase que um instinto de sobrevivência, afinal, o mundo é feito por quem é flexível e se adapta facilmente a novas situações. Deve ser coisa de DNA.

Mas a real é que, apesar de extremamente prazeroso, esse voo solo tem também os seus pesares. Nem sempre os dias são ensolarados e os arco-íris, apesar de incríveis, não são coisa que se vê toda hora. Ainda bem, aliás. A raridade é justamente o que os faz serem ainda mais incríveis.

O céu nem sempre está cheio de pássaros lindos, coloridos e diversos, que nos deixam até confusos na hora de decidir para onde olhar. E mais: às vezes o céu até está cheio, mas com pássaros que não chamam nossa atenção por mais de algumas horas. Faz parte.

Tem dias, inclusive, que chove forte e, quando cansamos de bater as asas na chuva e decidimos nos proteger do frio e dos raios, temos que encontrar abrigo sozinhos, sem ajuda de ninguém.

Voar junto é, sem dúvida, mais seguro. Para que um não se perca do outro, antes de decidir sair do chão pela primeira vez, traçamos, juntos, um plano de voo. Para isso, corrigimos a rota um pouco daqui e um pouco de lá e, todos os dias, antes de ir para o céu de novo, trocamos olhares para não esquecer o caminho combinado. Sorrimos em cumplicidade antes de sair batendo as asas juntos por aí.

O fato é que, voando junto ou separado, o céu, sempre lindo, é uma oferta infinita de distrações: uma nuvem de formato diferente, o pôr e o nascer do Sol, uma paisagem lá embaixo que dá vontade de descer para ver, um pássaro colorido, diferente e que canta mais bonito...

Nosso instinto é sempre ir. Mas olhamos para o lado e vemos estabilidade, cumplicidade, parceria... vemos uma rota traçada a ser seguida. Por isso, decidimos ficar, mas não sem olhar para o horizonte e imaginar como teria sido seguir por aquele outro caminho. E não devemos nos culpar por isso. É humano. É natural.

Dizem que quando voamos juntos, vamos mais longe porque temos foco. Acho que isso faz muito sentido, já que, quando temos foco, quase não cedemos às distrações ao redor e vivemos em função de um bem maior: a rota planejada. Essa determinação toda torna o voo compartilhado muito bonito.

Mas muito bonito também é voar curtinho, sem destino, parar de galho em galho, dar um rodopio no ar, ir e voltar. Fazer movimentos circulares, revisitar lugares, planar sem saber para onde o vento irá te levar. Mudar de rota, cagar para a rota e se juntar, temporariamente, a outros voos, sem ter a obrigação de ficar. E não ficar. Partir na hora que bem entender.

A verdade é que a graça de voar é sentir o vento na cara, olhar o Sol nascer, mudar de altitude, recalcular rotas. Às vezes, ou muitas, até tomar chuva, mas, principalmente, mudar sempre de lugar, sem se conformar, sem se acomodar.

Se você estiver fazendo tudo isso, junto ou sozinho, saiba que você está no caminho certo.


quinta-feira, 30 de abril de 2015

Pessoas que amam a vida

Admiro muito as pessoas que são amantes da vida. Pessoas que amam a vida estão abertas para suas possibilidades, sejam elas quais sejam. Pessoas que amam a vida reconhecem, por isso, o real sentido da liberdade porque conseguem viver sem amarras.

Pessoas que amam a vida têm poucos medos. Têm, é claro, aqueles temores óbvios (perder pessoas muito amadas, envelhecer sozinho, chegar ao fim da vida com a sensação de que tudo foi medíocre), mas conseguem facilmente colocá-los em segundo plano quando é preciso. Pessoas que amam a vida põem os receios e preconceitos nossos de cada dia de lado e topam qualquer convite, sem pré-julgamentos.

Pessoas que amam a vida adoram conhecer pessoas novas e se relacionar com elas. Seja fazendo melhores amigos instantâneos para furar a fila da balada ou para ter com quem contar para a vida inteira.

Pessoas que amam a vida investem naquele cara superinteressante que conheceram no Tinder, dão uma chance para aquele outro cara fofo do trabalho e pegam cinco caras seguidos na balada, dando o telefone e não lembrando o nome deles no dia seguinte quando eles mandam mensagem.

Mas quando se apaixonam, as pessoas que amam a vida mergulham de cabeça. As pessoas que amam a vida não reprimem sentimentos, nem boicotam relacionamentos com potencial de serem diferentes de todos os outros pelo simples receio de se magoar de novo. Pessoas que amam a vida não têm medo de sofrer porque sabem que o sofrimento faz parte do pacote.

Em resumo, pessoas que amam a vida não têm medo de amar, mas amam primeiro a elas mesmas e sabem colocar um ponto final em uma história que só está lhes fazendo mal.

Pessoas que amam a vida amam gente, são intensas e jogam limpo. Elas não manipulam as pessoas e são sinceras. Pessoas que amam a vida sabem dizer não e sabem também ouvir (e aceitar) o não. O não definitivamente não é um problema para as pessoas que amam a vida e, por isso, elas sempre pagam para ver e acreditam primeiro no que sentem e só depois no que seria a lógica da coisa.

Pessoas que amam a vida têm trepadas incríveis que se arrastam pela noite inteira e transas horríveis que duram apenas alguns minutos. O fato é: pessoas que amam a vida não têm medo de se entregar. Pessoas que amam a vida apostam alto e, por isso, às vezes ganham e às vezes perdem.

Pessoas que amam a vida ouvem música alta, cantam sozinhas (alto em casa e baixinho pela rua) e têm a imaginação muito fértil. O mundo real é pouco para as pessoas que amam a vida e, por isso, elas precisam expandi-lo para além da rotina do dia a dia. Pessoas que amam a vida são diferentes das outras e, por isso, chamam a atenção, encantam e intrigam.

Pessoas que amam a vida se permitem às vezes estar de boa e passam as tardes de folga deitadas na cama lendo o livro que não tiveram tempo para folhear durante a semana. Elas também ficam em casa de vez em quando em pleno sábado à noite assistindo a algum filme e acordam tarde no domingo para fazer macarrão e tomar vinho. Pessoas que amam a vida respeitam seus limites, seu cansaço e vêem graça em todas as coisas, mesmo nas pequenas.

Mas, quando estão a fim de quebrar tudo, as pessoas que amam a vida vão para a balada até sozinhas, ficam dez horas de pé dançando loucamente com os amigos, fazem bico na foto para postar no Facebook, enchem a cara e vão embora, bêbadas, cantando pela rua quando o Sol já está alto. Pessoas que amam a vida não se importam com o que os outros pensam.

Pessoas que amam a vida se entregam a paixões. Sejam elas passageiras ou eternas, sejam elas por momentos ou pessoas, sejam elas reais ou ilusões. Pessoas que amam a vida dão várias chances para si mesmas e para as pessoas e não têm medo de relacionamentos, sejam de uma noite, sejam para a vida inteira. Pessoas que amam a vida vivem de coração aberto para o que vier.

As pessoas que amam a vida não procuram o amor porque elas já perceberam que é o amor que as encontra. E isso vale muito para o amor romântico por outra pessoa, mas também pelo amor pelos amigos, pelo trabalho, pelos sonhos, pela música ou qualquer outro interesse que elas tenham na vida, desde que ele seja genuíno.

Pessoas que amam a vida não se boicotam e aproveitam intensamente os momentos felizes simplesmente por não terem medo da felicidade. Mas também aceitam os momentos de tristeza e desespero porque entendem que isso faz parte do seu crescimento humano. Pessoas que amam a vida amam a vida do jeito que ela é, com seus altos e baixos.

Você nunca verá uma pessoa que ama a vida arrependida porque não fez algo. Pessoas que amam a vida não titubeiam, às vezes exageram um pouco, mas, no fim, seguram o sorriso no rosto e o semblante de paz de quem está fazendo exatamente o que se propôs a fazer quando veio para este mundo.

Ando amando muito a vida ultimamente. Espero que você também! :)

domingo, 15 de março de 2015

A arte de tomar decisões difíceis, mas necessárias

Às vezes a vida nos surpreende com a necessidade de tomar uma decisão difícil. Da primeira vez que nos deparamos com essa necessidade, nos assustamos: parece grande demais, dificil demais, doído demais. Fugimos dela.

No fundo, sabemos que não há outro caminho a seguir e, mais cedo ou mais tarde, vamos ter que dar o primeiro passo em direção a ele. Mas, ainda assim, adiamos a decisão, alimentando alguma esperança de que uma luz do céu vai descer para nos poupar daquela escolha. Vamos empurrando com a barriga. Não estamos prontos ainda.

Mas a luz não desce. O tempo passa e nada acontece. Tudo o que fazemos dá errado e parece que a vida para de fluir. Apegados, estamos presos ao medo de tomar a decisão que precisamos tomar, apesar de saber que é exatamente por isso que as coisas travam. Ficamos putos, mas, na verdade, tudo isso é obra da vida, paciente, esperando nosso tempo de aprender antes de nos liberar para a próxima fase.

Tentamos ignorar a tomada de decisão, jogá-la para outras pessoas. Criativos, criamos até outras alternativas, mas quando percorremos os caminhos secundários, percebemos que eles dão no mesmo lugar de onde saímos: frente-a-frente com o caminho principal.

Sofremos, choramos e, às vezes, até nos desesperamos. Não queremos, de jeito algum, fazer aquilo. Não queremos fazer o que temos que fazer, o que precisamos fazer, apesar de estarmos sofrendo. Por um tempo, deixamos de confiar na vida e entender que, por mais que não pareça, essa é realmente a melhor coisa que podemos fazer naquele momento.

Até que chega um dia, meio despretensioso, chuvinha na janela, gente com discurso de ódio na Paulista... que merda de dia! E você, simplesmente, percebe que chegou a hora. Você está pronta para tomar a decisão que há tanto tempo vinha adiando.

E toma. E dói. E é tão horrível quanto você imaginou.

Mas, quase que instantaneamente, no meio de toda aquela tristeza, começa a surgir, lá no fundo, uma aliviadora sensação de paz. Um sentimento de que você, finalmente, fez o que precisava fazer. Viva!

Exausta, você vai dormir... mas com uma estranha sensação. É como se uma pessoa querida estivesse passando a mão na sua cabeça, orgulhosamente, te acalmando depois de um dia que ela sabe que foi muito difícil para você. E dentro de você, você escuta: "Você foi ótima, mas agora, não é mais com você. Deixa com a vida!"

Nosso coração é sábio demais. A gente devia aprender logo a confiar nele desde o começo.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Sobre coisas que a gente procura e não encontra

Às vezes a gente sai de casa procurando uma coisa, mas não encontra. Por mais persistente que você seja (não achou aqui? Então anda mais um pouquinho para ver se acha mais ali na frente...), não adianta. Você pode até demorar um pouco para reconhecer, mas o fato é que você não vai encontrar o que está procurando. A batalha está perdida. Pelo menos, a de hoje.

Pessoas, como eu, que acreditam que todos nós somos capazes de tudo têm uma dificuldade maior de assumir derrotas. Otimistas irremediáveis, acreditamos sempre que existe uma luz no fim do túnel, um caminho escondido que não percorremos ainda, um insight iluminado, uma chance.

Interpretamos todos os sinais que a vida dá (e eu acredito muito que a vida nos dá sinais) da forma que é mais conveniente com o que esperamos, com o que queremos que aconteça. E, não contentes, manipulamos, inconscientemente, cada um desses sinais como novas justificativas para a nossa ideia fixa.

Depois de tanto bater a cabeça, inseguros, acabamos nos abrindo com os amigos. Parece que estamos buscando colo ou conforto, mas a realidade é que, teimosos, ainda estamos procurando o que queremos encontrar. Quando pedimos conselho às pessoas queridas, estamos buscando, na verdade, apoio para a nossa ideia, ainda na tentativa de nos agarrar a uma eventual possibilidade perdida.

"Sinceramente? Você deveria desistir."
"Não quero ver você sofrer mais. Desencana."
"Você merece coisa melhor."
"Você é muito cabeça dura."
"Você está idealizando suas expectativas."

E se você também argumenta bem, aí é pior ainda. Você ouve a real, mas não aceita de forma alguma. Insiste numa procura infinita de novos e novos fatores a acrescentar na discussão para tentar legitimar a sua busca. Para tentar mudar a opinião do amigo conselheiro e, mais uma vez, conseguir um novo apoio para continuar procurando.

E, se você é metido a intuitivo, o caso é praticamente perdido. Tudo o que você sentir a partir daquele maldito dia (em que a busca se tornou uma ideia fixa) vai te fazer ponderar se aquele calorzinho no coração é mesmo um "não desista, siga em frente" ou um "estou esquentando porque não aguento mais tanta burrice".

Ironia do destino, o sentimento físico gerado pela intuição é bem parecido com o decorrente da ansiedade. Resumindo: até agora não sei dizer. Intuição ou ansiedade?

Ontem saí de casa procurando uma coisa. Fui a quatro lugares diferentes e, no último, ainda fiquei indo e voltando pelo corredor procurando, mesmo sabendo que o que eu queria também não estava ali e era hora de desistir.

Tupperware estilo Ziploc de 600ml. Se alguém encontrar por aí, me avisa. Estou procurando.